O jazz faz-se pela improvisação e nada mais empolgante que um show de jazz ao vivo. Trago dois extraordinários registros de duas grandes cantoras americanas na Europa: Ella em Berlin e Sarah em Copenhagen.
Sarah Vaughan (27 de março de 1924), The Divine Sassie, começou a estudar piano e cantar no coral da igreja aos 7 anos e adolescente já se apresentava em clubes de Newark como pianista. Assistia a shows de jazz em New York e numa noite de 1943 ela tomou coragem e se inscreveu como cantora num concurso do Apollo Theater, no Harlem. Ela ganhou o primeiro prêmio com direito a uma semana de apresentações no teatro, durante a qual conheceu Billy Eckstine e Earl Hines e iniciou sua carreira. Nas orquestra de Hines e Eckstine teve contato com músicos geniais no início do bebop como Dizzy Gillespie, Charlie Parker, Miles Davis e Dexter Gordon.
Sua carreira solo, a partir de 1945, teve impulso com a aproximação do trompetista George Treadwell que cuidava da sua direção musical e cênica, além de incentivar uma bela mudança no visual da cantora. Eles se casaram em 1946 e ela logo assinou contrato com a Columbia Records, com grande sucesso popular . Em 1953 ela se transferiu para a Mercury Records, onde encontrou liberdade para fazer trabalhos de cunho mais jazzísticos, tornando-se uma das mais importantes cantoras de todos os tempos.
Em 1963, após uma breve passagem pela Roulette Records, de volta à Mercury, seguiu para a Dinamarca com o produtor Quincy Jones, onde gravaram este belo trabalho, 2 horas de música em 4 apresentações no Tivoli. A riqueza de suas interpretações e nuances vocais emocionam. Uma cantora de nível técnico praticamente inalcançável.
O disco de Ella é um dos mais impressionantes registros ao vivo que eu conheço. Ela estava inspiradíssima neste concerto em Berlin, 1960. O repertório é excepcional do início ao fim, com grandes sucessos dela como “How High the Moon”(com citação de “Omithology” de Charlie Parker no fantástico scat), “Summertime”e “That Old Black Magic”. Também a divertida e apimentada “Lorelei” dos irmãos Gershwin e uma inesquecível “Mack the Knife” de Brecht & Kurt Weil, em que ela esquece a letra no meio da apresentação e continua cantando, improvisando o texto com muito bom humor. Não sei se ela realmente esqueceu a letra, ou se foi “armado” durante os ensaios, mas de qualquer forma é GENIAL!!